A ESTRATÉGIA DE RH
- Nathi
- junho 15, 2022
- Artigos da Nathi
- Gestão de Pessoas
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Há alguns bons anos atrás, quando iniciava minha carreira dentro de instituições, atuei como estagiária em RH de uma empresa grande, com um setor de Recursos Humanos igualmente gigante.
A empresa passava por uma reestruturação interna ao longo de 03 anos e finalmente as mudanças chegavam ao setor de RH.
A primeira pergunta que todas as equipes fizeram à Gestora foi:
“Haverá corte de pessoal em nosso setor?”
Por meses as respostas mudaram e seguiram um tipo de ‘crescente’:
· Ainda não tenho informações mais claras;
· Acredito que nossa estrutura atual esteja adequada;
· Farei de tudo para que isso não aconteça.
E foi em uma reunião geral, com os integrantes das equipes de RH (matriz e filiais) que nossa Gestora, depois de uma discussão calorosa, cedeu à pressão e respondeu oficialmente:
“Ninguém será demitido”
Lembro de sentirmos um alívio tão grande que em plena segunda-feira alguns colegas decidiram se reunir para um happy hour.
Bem, não preciso explicar o tamanho da surpresa no dia seguinte (sim, no dia seguinte) quando tive que me despedir de 02 colegas de trabalho.
Nossa Gestora alegou ‘ordens superiores’ para justificar a ‘omissão’ e desta maneira dividiu opiniões, recebeu críticas, alguns pedidos de demissão, bem como, permaneceu em ‘retiro’ por meses, sem promover reuniões. Ou seja, um ‘efeito dominó’ difícil de contornar.
Me perguntei: não haveria outro caminho?
O fato é que as energias de um Recursos Humanos permeiam 03 diferentes (e por vezes contrárias) frentes:
· As solicitações e expectativas dos Sócios
· As solicitações e expectativas dos empregados
· E os próprios projetos e expectativas como RH
Por acaso já te sentisse alguma vez? Com a necessidade de atender ora uma, ora outra frente que parecem buscar objetivos divergentes?
Se sim, saiba que há uma maneira mais coesa e unificada de desenvolver o teu trabalho. E ela é mais simples do que parece.
ESQUECEMOS DE ALGO IMPORTANTE
O Recursos Humanos nasceu especificamente para racionalizar e entender as variáveis que influenciam a produtividade de funcionários. E desta maneira, gerar mais resultado para a empresa (modelo industrial).
Com o passar do tempo e evolução dos modelos de trabalho, deixamos de oferecer somente ferramentas de administração do capital humano para oferecer também práticas de desenvolvimento de pessoas.
O fator humano tornou-se ‘o bem mais valioso’ de uma instituição. Passou de ‘mão-de-obra produtiva’ para o recurso que proporciona vantagem competitiva. E ao invés de um processo administrativo de pessoas agora atuamos com a Gestão Estratégica de pessoas.
Mas será que conseguimos na prática?
Se ainda não conseguimos conectar e equilibrar o foco entre empregador e empregado, já que somos um dos principais elos entre estes interlocutores, asseguro que o nosso papel é nomeado, mas não efetivo no papel de estratégico.
Inúmeras ferramentas, estudos científicos, formações especializadas e cada vez mais, um lugar à mesa de reuniões estratégicas, tudo isso já existe (em suas devidas proporções de acordo com a instituição). E mesmo assim, temos dificuldade em atender de maneira integralizada empregador e empregado. Atuamos mergulhados neste paradoxo de interesses, que inclusive contribui para sua consolidação.
Tudo isto porque esquecemos de algo importante: MUDAR O OLHAR.
A VERDADEIRA VANTAGEM COMPETITIVA
“Para os indivíduos, caráter é destino. Para as organizações, cultura é destino.” – Tony Hsieh –
A vantagem competitiva não se resume às pessoas, mas sim a cultura da instituição.
E do ponto de vista da Psicologia Institucional a cultura basicamente se legitima através do conjunto de relações sociais que reproduzimos e repetimos (explícita ou implicitamente).
Ou seja, a cultura não é formada somente pela missão, valores e práticas de uma empresa. Mas sim, por aquilo que é efetivamente reproduzido, a ação, o comportamento das pessoas que compõe aquela empresa.
E quando eu falo pessoas, eu quero dizer todas as pessoas, incluindo sócios, clientes, o RH, todos que de alguma forma participam da dinâmica relacional de uma instituição. Até mesmo a rádio peão faz parte da cultura de muitas empresas.
Perceba que as características que emergem de todas estas conexões entre as pessoas são tão complexas e únicas que é quase impossível replicá-las. Ou seja, se olharmos para estas conexões a fim de equilibrá-las, potencializá-las e enxugá-las de diferenciais de mercado, é quase impossível ser ‘copiado’. Pode (e deve) se tornar a verdadeira vantagem competitiva de uma instituição.
Está aqui um dos maiores segredos de uma atuação realmente estratégica: olhar para dinâmica dos grupos e fortalecer uma cultura competitiva.
Mas para isso tudo tu precisas conhecer muito bem que cultura é essa que tu queres fortalecer.
**Se quiser conhecer um pouco mais sobre o poder da Cultura Institucional, eis uma dica de leitura fantástica: Livro “Satisfação Garantida: no caminho do lucro e da paixão” – Tony Hsieh – Rio de Janeiro: Tomas Nelson Brasil (editora)
A ESTRATÉGIA ESTÁ NA MANEIRA DE PENSAR
A Psicologia Institucional (termo cunhado por José Bleger, psiquiatra argentino) é muito mais uma ‘Estratégia de Pensamento’ do que uma área específica de atuação. Por isso, acredito que qualquer líder verdadeiramente interessado em atuar estrategicamente pode usar e se beneficiar desta ferramenta.
Esta ‘Estratégia de Pensamento’ aproxima-se muito ao que popularmente chamamos de ‘visão sistêmica’, mas focalizada nos grupos e em suas relações.
Trata-se de coletar informações, planejar estratégias e atuar a partir da referência das dinâmicas grupais, no alcance de seu equilíbrio e coerência com o propósito institucional.
Lembra da história que contei no início? Onde minha Gestora ‘omitiu’ informações em prol de ‘ordens superiores’?
Se olhássemos para esta situação com a ‘Estratégia de Pensamento’ Institucional perceberíamos que se trata nada mais nada menos do que uma prática cultural da empresa. É claro, uma prática insalubre de omitir informações e fazer sentir subjugados desde empregados até o próprio RH.
Esta característica estava tão enraizada nesta identidade cultural que os empregados respondiam a esta dinâmica com pressão e reivindicação de informações.
Além disso, os próprios empregados repetiam esta mesma dinâmica entre si: caracterizado pela própria omissão da nossa Gestora de RH. E, provavelmente, a mesma dinâmica se repetia com fornecedores e clientes, o que não é nem de longe um bom sinal.
Quando olhamos desta maneira mais integralizada e conectada para os fatos, conseguimos ir muito mais além do que o paradoxo Empresa X Empregado. Conseguimos perceber o que está escrito nas ‘entrelinhas’ e planejar uma atuação verdadeiramente estratégica.
Ou seja, que proporcione uma mudança na cultura (mesmo que em diferentes níveis) capaz de gerar vantagem competitiva para a empresa e, o melhor de tudo, proporcione também equilíbrio e saúde para a instituição.
COMECE POR VOCÊ
Se você faz parte da instituição, é natural que não só consiga observar e citar situações incongruentes, como também consiga sentir e viver estas incongruências.
Os grupos tendem a manter um padrão de comportamento que caracteriza sua identidade.
Como RH interno tu compões este grande grupo e consequentemente reproduz, mesmo que em um nível diferente, esta identidade.
Te convido a fazer um simples exercício para treinar esta ‘Estratégia de Pensamento’.
Analisa teu setor e identifica como ocorrem as dinâmicas de relacionamento com os teus diferentes clientes internos.
· Existem pontos de incoerências?
· Sentes desconforto ou dificuldade no manejo de algumas relações ou projetos específicos?
· Quais os principais motivos para estas incoerências?
· Existem pontos de coerência?
· Sente-te confortável e muito à vontade no manejo de algumas relações ou projetos específicos?
· Quais os principais motivos para estas coerências?
Todas estas respostas podem te dar subsídios para identificar dois pontos importantes:
- Que tipo de DNA positivo a tua instituição possui (coerências);
- Que tipo de mudanças estratégicas precisam ser realizadas (incoerências).
Esta auto percepção já é um grande exercício e começo.
Afinal, se queremos contribuir com mudanças estratégicas e saudáveis, que elas iniciem por nós mesmos, pelo nosso setor.
RECAPITULANDO
Somos o principal elo entre Empregador e Empregado, e apesar de sermos nomeados como ‘setor estratégico’ pecamos em uma questão anterior à estratégia: a de integralizar o foco destes interlocutores.
Por isso, acabamos por dividir nossas energias em 03 diferentes (e por vezes contrárias) frentes:
- As solicitações e expectativas dos Sócios
- As solicitações e expectativas dos empregados
- E os próprios projetos e expectativas como RH
Mas através de uma ‘Estratégia de Pensamento’ diferente é possível direcionar estas energias e tornar nosso trabalho mais coeso, unificado e verdadeiramente estratégico.
O segredo está em focar a atenção nas dinâmicas grupais e ‘ler’ o que emerge da cultura institucional.
Quanto mais o comportamento dos grupos (a cultura) estiver congruente com o propósito da instituição, mais estratégica será a gestão de pessoas.
Quanto mais o comportamento dos grupos operar de maneira saudável e equilibrada (sem corroer a saúde emocional ou física dos envolvidos), mais motivador será o ambiente de trabalho.
Então, que tipo de mudanças posso propor para promover tudo isto?
Ao observar estas congruências e incongruências que se torna possível planejar e atuar de maneira realmente estratégica: atuar em mudanças (pequenas ou grandes) na cultura institucional.
Podemos sim ser mais estratégicos!
Basta focalizarmos um pouco mais o nosso olhar na instituição como um todo e utilizar uma ‘Estratégia de Pensamento’ mais integralizada, capaz de se conectar com a verdadeira vantagem competitiva de uma instituição: uma cultura coerente e equilibrada
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